VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Blaze Bayley & Shadows Legacy:
The Soul of Metal in Bigfield (Part II)

Quem foi ao Hangar dia 04 de janeiro para ver Blaze Bayley e resolveu conferir a Shadows Legacy não se arrependeu. Não foi o meu caso, que fui pra ver os dois mesmo, e com a mesma expectativa: cada show da Legacy, pra mim, é um grande show. O fato de Blaze Bayley gravar uma música com os caras e participar do lançamento do CD diz muito sobre eles. O momento em que Blaze subiu ao palco para cantar “Hate whitin” com Wille Bruno foi um marco histórico. Não pela honra ou “glória” particular da banda, mas pelo reconhecimento prático da qualidade da Shadows e, por via dela, do metal de MS.

Acompanho, embora de longe e esporadicamente, a cena metal de Campo Grande há pelo menos quinze e anos, e, pelo que posso comparar com o que vi em outros estados, me sinto à vontade pra atestar sua riqueza e qualidade; sobretudo nos estilos mais radicais, como o thrash, o death e o grind. Entre bandas (e ex-bandas) já consagradas e cada vez mais reconhecidas ou mesmo apenas promissoras (e sem distinguir estilos nem bermudas ou calças compridas), é preciso citar Katastrofe, Sacrament,  Jäpüräh Noise Project, DxDxO, The God of Carnage, Aggression, Diabolical Hate, Death Soldier, Screaming Fire, Burning Universe, Butchercrow, Extração Craniana e Rejeitados pelo Diabo.

CD à venda pelo e-mail shadoslegacyband@gmail.com
E com certeza há muita coisa que não conheço (ou que vi há muito tempo mas não guardei o nome) fora dessa lista, inclusive bandas de outras cidades, como Corumbá e Dourados. Das que não vi ao vivo, acho fundamental, por testemunhos de amigos e pelo que vi no youtube, citar a Warriors, formada por índios Terena.

Muito mais que o apuro técnico, é a força e a autenticidade que une essas bandas e dá uma feição própria ao Metal de Campo Grande. É a presença disso que estou chamando de “Alma do Metal” (assim como existe uma grande Alma do Blues em Bigfield). E como em cada uma delas, essa alma se encarna de forma única na Shadows Legacy.

De novo, o que importa aqui não são comparações. Meu apreço particular pela Shadows Legacy se relaciona, principalmente, ao tipo de som que eles fazem, com melodias, letras e arranjos trabalhados e uma junção perfeita de peso e harmonia. Por essa junção, a Shadows lembra mais o Black Sabbath, com sua sonoridade soturna mas bem definida, que o Iron Maiden, com seus arranjos espalhafatosos (embora as linhas melódicas me lembrem mais as do Iron). Foi com a Shadows, aliás, que eu “aprendi” a ouvir Black Sabbath, inclusive o da fase Dio, o preferido de Wille Bruno.

Três coisas impressionam na Shadows: a coesão e excelência do conjunto, a qualidade de várias canções e, para usar a palavra que dediquei ao Balze Bayley no post anterior, a presença de Bruno. Como Blaze, Bruno torna presente a Alma do Metal de forma única, ou melhor, sua aura sóbria, negativa, e sua alma épica, positiva. E como Blaze é um grande vocalista, com elementos virtuosísticos contrabalançados por semiguturais que, aliados à pegada feroz da banda, dão a algumas canções uma feição quase thrash. Aliás, o baterista da Shadows, Augusto Morais, é o mesmo da thrasher Death Soldier.

Os duos solantes – vigorosos e impecáveis – de Leandro Motta e Max Batista na guitarra e mais o baixão denso e onipresente – e igualmente melódico – de Luciano Rivero fazem o resto: uma sonoridade melódica e encorpada, densa e harmônica, e sempre pulsante. Vale o registro, também, de que, assim como em Blaze Bayley, essa densidade também se manifesta na letra.

Por tudo isso, o encontro da Shadows com Blaze Bayley no palco do Hangar sábado passado foi um verdadeiro acontecimento. Não apenas porque honra o Metal de Campo Grande, mas porque faz justiça a ele. Não por acaso, Blaze estava tão feliz no palco quanto os rapazes da Shadows.

Mesmo sempre dizendo que comparações são perigosas, tomo liberdade de propor uma; não pra comparar qualidades, mas pra aferir a densidade da Shadows de que falei. Abaixo, um clip da banda campograndense e na sequência um da banda Jat Lag Project, de Ouro Preto, que fechou a noite do mesmíssimo Blaze Bayley em Conselheiro Lafaiete-MG:


Sou amigo do Bruno mas não estou rasgando seda: no momento que me senti à vontade para isso, disse a ele que me orgulhava de conhecê-lo. Ou seja, fui fã antes de ser amigo. É preciso que Campo Grande saiba o valor de seus artistas. Há metaleiros, aqui, que não sabem da qualidade dos músicos e das músicas da Shadows, e nem desconfiam que Campo Grande tem um frontman de Heavy Metal com o carisma de Wille Bruno. Em algum momento, aliás, preciso falar da outra banda de Bruno, a Strangers, que também lançou um CD recentemente. Mas a Strangers é uma banda de hard rock, e mesmo às vezes sendo difícil, pra mim, diferenciar os dois estilos, quero terminar este texto brindando:

Vida longa ao Metal, em Campo Grande, no Brasil, no mundo!

Um comentário:

  1. eu estive no dia e ótima matéria o/ !!!
    TIAGO KILLERS .. PIECE OF MAIDEN KILLERS MS !
    pieceofmaidenkillers.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir