VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Do quantum da nossa imperfeição


Quanto mais te conheço, mais me reconheço. Não porque sejamos iguais, mas porque há em você quase tudo que sempre quis pra mim.

Quanto mais conheço seus acidentes, mais quero te habitar e mais quero que você me habite: que você descanse, se fortaleça e revigore em mim.

Quanto mais te vejo e reconheço imperfeições, mais me certifico de que você é meu lugar, e de que não pode haver lugar mais belo nem perfeito para mim.

Quanto mais te conheço, mais te desejo e gosto de você. Simples assim.

Quanto mais empecilhos se apresentam e se avolumam mais acredito no destino, mais desprezo a sorte e o azar – e digo a mim mesmo: o que há de ser será, e tudo valerá a pena.

Quanto mais os dias passam, quentes ou frios, surpreendentes ou iguais, mais acredito que houve um dia abençoado para mim. E este dia é hoje. E o que quer que aconteça, hoje será sempre.

Quanto mais te vejo ou, como agora, te aspiro e te vislumbro no odor (o mais doce odor!) de um pano rosa, mais tenho vontade de dizer que te amo. E, no entanto, mais me fortaleço para silenciar se for preciso. Sem, no entanto, que a sugestão de rimar amor (ou odor) com dor me tente mais do que o bastante para me livrar dela com ironia. Aliás, quanto mais conheço seu passado, mais vejo o meu com ironia: era a imperfeição, afinal, o que eu buscava, enquanto ideais cretinos me rondavam.

Quanto mais te quero para mim mais acredito na liberdade: a tua, a minha, a que há e a que ainda não, e talvez nunca haja. Mas quanto mais me lembro de quão fácil é virar teu corpo sobre o meu, mais me pergunto: será muito mais difícil virar o mundo de cabeça pra baixo?

Quanto mais, deitado em teu colo agora imaginário, me arrependo do que fui, de todo mal que fiz, mais me entendo e me perdoo. Quanto mais reconheço tua pureza mais me descubro ainda puro.

Quanto mais reconheço que erramos mais desejo não errar, mas menos me arrependo, porque esse erro tem um sentido, ao menos para mim, que nenhum outro teve.

Quanto mais te quero, mais desejo te querer, quanto mais temo por meu destino menos temo qualquer coisa. Quanto mais vivo em ti mais estou pronto para a vida e para morte. Quanto mais silencio que começo a te amar mais me certifico disso. Quanto mais descubro como é grande o que cresce em mim, mais cresço em ti e mesmo na possibilidade, sempre real, de tua ausência. Quanto mais te quero, mais sou grato por te conhecer, e pelo destino ou cada acidente que me trouxe até você.

(Num domingo de cachorros loucos)

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