VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ética capitalista - e "natalina" - a custo módico

Esta eu não sei se é bem uma dica natalina "para toda a família", mas como esse filme tem circulado muito por aí, achei que talvez fosse oportuno falar sobre ele. O melhor amigo do Papai Noel não é o pior filme sobre o Natal que já se fez, mas, sendo um filme da Disney, tampouco poderia ser o melhor. É, como se diz, "bonitinho", e recheado de boas intenções - mas quem leu a Comédia de Dante desconfia que aquele ditado sobre o inferno estar cheio delas pode ser verdadeiro.

O que o filme tem de mais interessante - fora os cachorros e as crianças, além de um Papai Noel estranhíssimo mas que afinal se mostra até simpático (principalmente quando se torna um mero empregado...) - é o que tem de mais suspeito: sua ética "natalina" do "lucro mínimo", bela e tremenda falácia "dickensiniana" em plena era de capitalismo globalizado.

Mas nesses dias em que se publica até manuais de inciação à economia financeira para crianças, essa é uma chance para confrontar as nossas com uma questão, digamos, econômico-filosófica, aliás semelhante àquela outra, de certa bolacha "fesquinha" e intragável: o lucro mínimo é o mínimo ou o máximo da ética capitalista?

Não gosto muito de indicar links de filmes, os quais afinal envolvem custos enormes de produção, direitos autorais, trampo de um monte de gente etc., mas afinal é quase Natal, e além disso a Disney com certeza já obteve com este o seu lucrinho.

Fica ao meu leitor o custo módico da energia (própria e da natureza) e do tempo de trabalho dispendidos, em benefício sabe-se lá de quem, além da ideologia em jogo, é claro. Mas esta é sempre discutível.


P.S.1 - Para todos os fins, isto é só uma dica crítica documentada. Para fins de entretenimento, o filme, que é de 2010, ainda está disponível nas locadoras, com qualidade superior etc. All riiight?!

P.S.2 - É o segundo post seguido em que falo (e ilustro com imagens) de cachorros. Penso que é o caso de explicar por que não dedico um post ao caso da enfermeira que matou o yorkshire na frente do filho pequeno. É menos por pudor diante de um drama afinal humano - e menos ainda por julgá-lo insignificante, triste sintoma que é desse estado de guerra endêmica que vivemos - do que pela questão de um acúmulo arquivístico e de uma prática analítica da barbárie que eu não quero estimular; não, pelo menos, na forma de ritos discursivos e judicativos que passem ao largo dos fundamentos desse estado de coisas.

Acréscimo em 24/12 - Eis um texto que diz mais ou menos o que eu penso a respeito do caso do yorkshire: Comoção canina, de Michel Blanco. Postei esse comentário na página: "Michel, parabéns pelo bom senso. Sou apaixonado por cães, mas não vejo sentido em fazer disso mais um alimento para a demência coletiva. E acho, mesmo, que a verdadeira dignidade que se pode dar aos cães, num futuro provavelmente distante, não é humanizá-los e mimá-los cada vez, mas libertá-los da NOSSA necessidade de tê-los ao nosso lado, para fins de compensação afetiva e de catarse...".

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